A 28 de Outubro de 2009, passaram 100 anos sobre o nascimento do pintor autodidacta Francis Bacon. Nascido em Dublin, a infância difícil levou-o a adoptar um comportamento de oposição ao pai, homem rude e violento, e a desdenhar a Irlanda natal, à semelhança de outros conhecidos irlandeses, Oscar Wilde e James Joyce.
O reconhecimento tardio do seu génio (em 1944, graças ao tríptico “Three Studies for Figures at the Base of a Crucifixion”), após ter trabalhado vários anos como decorador e designer de mobília e alcatifas, foi ampliado pelo escândalo da sua primeira exposição individual em 1945, na Lefevre Gallery. Quando ninguém queria recordar os horrores da guerra e só se falava na urgência de construir a paz e o bem-estar geral, Bacon expôs telas pintadas com tons sanguíneos, representando entranhas.
Ao longo da sua actividade artística, Bacon tratou com grande frontalidade alguns temas tabus que ainda hoje chocam a sociedade (como a pedofilia, as fantasias masoquistas, a mutilação e desmembramento de corpos, a representação do corpo recorrendo aos seus fluidos, a violência sexual, …), captando a atenção dos media e provocando a reacção do público, obrigado a concordar ou a discordar, a procurar justificações do artista e semelhanças com outros casos. A verdade é que muitas obras de Bacon provocaram mais repulsa do que admiração mas não se esgotavam em si próprias, sendo até concebidas para envolver e absorver a crítica do público e dos media. Ficaram famosas as suas abordagens transgressivas dos retratos do Papa Inocêncio X, de Diego Velázquez – na linha das abordagens de Picasso a conhecidas obras do mesmo artista.
Picasso foi, aliás, uma das referências de Bacon, juntamente com Rembrant, Grünewald, os expressionistas alemães, os surrealistas, assim como por alguns mestres da fotografia e do cinema. Entre o material de inspiração e de trabalho do artista, contavam-se recortes de jornais e revistas com reportagens de crimes violentos, mas sobretudo as fotos de amigos e amantes tiradas por outros amigos (como John Deakin, fotógrafo da Vogue britânica), pois Bacon só pintava em completo isolamento, num atelier caótico (VER foto).
Com a morte dos amigos que gostava de pintar, dedicou-se mais ao auto-retrato, reinterpretando o próprio rosto através de fotografias, muitas delas tiradas em cabinas fotográficas públicas.
Nos anos 80, dedicou-se sobretudo à paisagem e inspirou-se em novos materiais – como, por exemplo, a poesia de Garcia Lorca.
A história da arte enciclopédica e as notícias do centenário evocam as suas obras mais consensuais, como "Crucificação", de 1965, apesar de serem exemplos limitados da modernidade defendida por Francis Bacon. No entanto, certo é que contribuiu para alargar os caminhos da arte moderna e, sobretudo, intensificar a sua função social.
Entre as grandes exposições que assinalam o centenário, conta-se a retrospectiva da Tate Gallery (que já tinha organizado em 1985 uma grande retrospectiva, com a colaboração e presença do artista) – Londres, entre 11 de Setembro de 2008 e 04 de Janeiro de 2009, Museu do Prado – Madrid, 03 de Fevereiro a 19 de Abril de 2009 (78 telas), e no Metropolitan Museum of Art – New York, de 20 de Maio a 16 de Agosto de 2009 (66 telas).
Em 2003, a sua obra foi mostrada no Museu de Serralves.
O pintor faleceu em Madrid, com 82 anos, a 28 de Abril de 1992. Seis anos depois, John Maybury escreveu e realizou “Love Is the Devil: Study for a Portrait of Francis Bacon (1998, 90 min), uma biopic centrada na relação amorosa do artista (interpretado por Derek Jacobi) com o seu maior e mais conhecido amante, George Dyer (Daniel Craig). O filme coleccionou prémios (7) em grande parte pela corajosa abordagem do tema da homossexualidade na arte. VER trailer do filme.
Os seus últimos 16 anos de vida foram partilhados com um ex-barman analfabeto, John Edwards, 41 anos mais novo que ele.
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Links para obras de Francis Bacon na Internet:
http://pintura.aut.org/BU04?Autnum=11.193&EmpNum=15531
http://www.ocaiw.com/catalog/?lang=pt&catalog=pitt&author=229
http://pintura.aut.org/BU04?Autnum=11.193&EmpNum=15531
http://www.ocaiw.com/catalog/?lang=pt&catalog=pitt&author=229
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