Dorita de Castel-Branco: Estátua de Afonso Costa
A menos de ano e meio das comemorações do centenário da República, evoquemos o senense Afonso Costa, o dirigente político que mais marcou a vida da I República até ao sidonismo. Chefe (“Presidente do Ministério”) de três governos republicanos, entre 1913 e 1917, duas vezes ministro (Finanças e Justiça), escolheu o exílio após o golpe de Sidónio Pais (5 de Dezembro de 1917). Ver busto da autoria de António Paiva e breve biografia publicada pela Assembleia da República.
Casa onde nasceu Afonso Costa (demolida nos anos 60) - desenho de Júlio Vaz Saraiva
Apesar de afastado da vida política nacional, Afonso Costa prestou importantes serviços à República no estrangeiro, como chefe da delegação portuguesa à Conferência da Paz e à Sociedade das Nações, chegando a presidir à assembleia geral da Sociedade das Nações.
Foi, aliás, uma das derradeiras esperanças dos republicanos para a salvação do regime, tendo sido convidado a formar governo no final de 1923, pelo recém-eleito presidente da República, Teixeira Gomes, mas a falta de apoio dos nacionalistas levou-o a regressar a Paris. Colaborou depois com outros exilados na Liga de Defesa da República, criada para combater internacionalmente a ditadura nascida do 28 de Maio de 1926.
Terá visitado Seia pela última vez no final de 1923 ou no início de 1924. Em 1971, no centenário do seu nascimento e 34 anos após a sua morte no exílio (Paris, 01 de Maio de 1937), vieram para o jazigo da família, em Seia, os restos mortais do político republicano (Seia Católica, Nº 424, Julho de 1971; Monografia de Seia, pág. 334).
Dez anos depois (08 de Novembro de 1981) foi inaugurada a
sua estátua em Seia, pelo então Presidente da República, General Ramalho Eanes.
Era Ministro da Cultura, Francisco Lucas Pires. Uma foto de Eanes discursando,
da autoria do fotógrafo senense Serafim Correia, foi então capa do jornal
“Diário de Notícias”.
Ainda sobreviviam, na época, alguns ressentimentos em
relação às políticas anticlericais de Afonso Costa e ameaças anónimas impuseram
a necessidade de guarda armada à estátua durante a noite.
DORITA
De aspecto frágil e sensível – muito diferente da figura tradicional do escultor, Dorita Castel-Branco afirmou-se como escultora de corpo inteiro, capaz de lidar criativamente com os materiais brutos da escultura, a pedra, o ferro, a madeira, para produzir a pequena peça, a medalha precisa e delicada, ou o grande conjunto escultórico destinado à praça pública. “Moça frágil, desmedido escultor” – assim a classificou Jorge Amado, após uma visita ao seu atelier, em 1982.
Em 1981, Dorita marcara o ano artístico graças à inauguração de duas importantes obras de sua autoria: o conjunto escultórico dedicado aos Emigrantes, no largo fronteiro à estação de Santa Apolónia, em Lisboa, e um grande monumento na ilha de Taipa, em Macau. Em Novembro, foi inaugurada em Seia a estátua de Afonso Costa.
No ano seguinte, a 20 de Dezembro, é inaugurado o Monumento ao Centenário da Cidade da Figueira da Foz, de sua autoria, na Rotunda do Centenário. A medalha comemorativa dos 100 anos da cidade também foi realizada pela escultora.
Para além da linguagem específica das formas (estilizadas, geometrizadas, muitas vezes exprimindo movimento) o que sobressai das suas obras é uma grande força interior. A sua obra criativa é muito vasta e as suas esculturas públicas (34 esculturas ou conjuntos escultóricos implantados em jardins e praças ou edíficios públicos), encontram-se dispersas por todo o país, no antigo território de Macau (Ilha da Taipa), no Brasil (Embaixada de Portugal em Brasília e Rio de Janeiro) e na Venezuela (Embaixada de Portugal em Caracas).
“A escultura de Dorita rejeita todos os elementos vinculados à escultura tradicional. Num trajecto que parte da figuração para a essencialidade da forma, o seu projecto artístico baseia-se num processo de simplificação gradual da figura, esquematizada e descaracterizada, até atingir uma síntese plástica não figurativa, inserindo-se numa tendência cada vez mais forte para a forma pura, perceptível e abstracta.” Prof.José Fernandes Pereira, in Dicionário de Escultura Portuguesa ,2005.
Dorita de Castel-Branco nasceu em Lisboa a 13 de Setembro de 1936. Em 1962, concluiu o curso superior de escultura na escola superior de Belas Artes de Lisboa. Em 1963 e 1964, frequentou em Paris a “École Supérieure de Beaux Arts” e a “Académie de Feu de Paris” com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian,
Começou a expor em 1965, tendo realizado 25 exposições individuais em diversos espaços e galerias e participou em mais de uma centena de mostras colectivas, em Portugal e no estrangeiro.
Foi distinguida com diversos prémios – entre os quais o o 1º prémio da II Bienal Internacional del Deport, em Barcelona (1969) e o 1º Prémio Edinfor de Escultura (1993).
Professora do ensino liceal a partir de 1962, nos liceus D. Leonor, D. João de Castro e Maria Amália Vaz de Carvalho e nas escolas secundárias Patrício Prazeres e António Arroio, exercendo a docência durante 34 anos, em simultâneo com a actividade artística.
Faleceu em Lisboa em 23 de Setembro de 1996.
Está representada nos museus Nacional de Arte Moderna e Antoniano de Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian de Lisboa e Paris, Biblioteca Nacional de Lisboa e Museu Regional de Aveiro.
Em 2007, foi homenageada com uma grande exposição no Casino Estoril.
O espólio de Dorita Castel-Branco está a cargo da Câmara Municipal de Sintra, em exposição na Casa Dorita Castel-Branco, localizada na Quinta da Regaleira.
Fontes: Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses, Fernando de Pamplona, Livraria Civilização, Vol. II; Catálogo da Exposição de Homenagem a Dorita - Galeria de Arte do Casino Estoril, 2007; Correio da Manhã, 14 Fevereiro 2007, “Casino inaugura exposição de Dorita Castel’Branco”.
NB: as fotos deste post foram actualizadas em 2010, após as obras de limpeza e restauro do monumento realizadas pela CMS no âmbito das comemorações do Centenário da República.
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